sábado, 11 de dezembro de 2010

corro mesmo sem pressa.

   Eu, que sempre afirmo estar parada, notei que, frequentemente, ao cruzar com meus desconhecidos pela rua, seus rostos se vão rapidamente, fluidamente, até que me descubro correndo, os pés apressados, ávidos de chegar a destino nenhum, ou a um destino que por certo não mudará de endereço em duas horas.
   Corro mesmo sem ter pressa.
   Eu, que ininterruptamente critiquei a busca pelo estável, a busca pelo firme e pelo durável, realizei que, na forma, à vista, não há nada que me diferencie de liberais conservadores, de corredores, de corruptores. Corro assim como eles, os olhos pinguepongueando sem razão, os ombros contidos de cuidado e cautela, os tropeços sobre os seres. Na forma, à vista.
   Corro mesmo sem pressa.
   A diferença (algo que insisto em encontrar por teimosia, por preconceito, por (liberoconserva)fobia) é que corro para o nada e para o tudo, para a água e do sol, corro para quem e com quem, corro para e pelo efêmero, para e pelo o espectral, corro para as correntes, acorrentada (a arte, quanto nos liberta, nos aprisiona a uns e outros); corro para e por correr.
   Corro mesmo sem ter pressa.

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