quinta-feira, 31 de maio de 2012

Ars procrastinaria

Temos pressa. Trabalhar é importante. Vagabundear é urgente. Procrastinar, não, minha gente
PROCRASTINAR, SEGUNDO o "Houaiss", é "transferir para outro dia ou deixar para depois; adiar, delongar, postergar, protrair". Mas o que sabem os dicionários? Bichos afoitos, na ânsia de engolir o mundo, mal têm tempo de mastigar cada palavra, de extrair delas todo o sabor e os nutrientes, de modo que a definição acima diz tanto sobre a complexa arte da embromação quanto "forma de interação psicológica ou psicobiológica entre pessoas, seja por afinidade imanente, seja por formalidade social" explica o "amor".

Percebo, porém, que divago. Em vez de encarar o dever proposto no título e falar sobre a procrastinação, a pratico: passeio por enfadonhos arrabaldes, perco-me nas borradas fronteiras da linguagem e do coração. Tudo bem, não há razão para me afligir, pois as crônicas são redondas como a Terra, e às vezes é indo para trás que chegamos ali na frente. Se o parágrafo anterior fugiu à teoria, serve ao menos como demonstração prática do que entendo por procrastinar: adiar alguma obrigação chata arrumando outra atividade igualmente tediosa para pôr em seu lugar.

Veja, caro leitor: ir ao cinema em vez de trabalhar não é procrastinação. É vagabundagem, no melhor sentido do termo. Fazer sexo num sábado de manhã, quando se deveria pendurar estantes, não é procrastinação: é sabedoria, compreensão de que a vida é breve, é besta e que os instintos são muito mais importantes que as estantes. Já abrir o site do banco e ficar digitando a infinita sequência numérica do código de barras de uma conta de luz que só vence no fim de junho, quando se está cheio de trabalho para amanhã, eis o mais nítido retrato da procrastinação. Pois essa praga dispersória é filha de Deus com o Diabo, é um pecado que já vem com penitência. O procrastinador só se permite gozar o adiamento do trabalho maltratando-se no interlúdio. Troca-se de aborrecimento, mais do que dele se desvia; eis como o saci da procrastinação oculta sua presença e surrupia nosso tempo, nossa vida.

Quantas vezes, atrasado na escrita, me pego limpando o antispam, arrumando papéis na gaveta, aceitando solicitações de amizade no Facebook, lendo, na internet, uma matéria sobre a tendência de queda nos juros do financiamento imobi-liário? Nunca, no entanto, nessas inconscientes delongas, me encontro gargalhando com uma crônica do Verissimo, tomando sol no quintal, assistindo a um antigo episódio de "Seinfeld", ouvindo um disco de ska.

A procrastinação é um mal, meus caros, não por arrancar-nos do trabalho, mas por nos grilar o ócio. Não é aferrando-me à labuta, portanto, que pretendo combater este vício, mas buscado forças para me entregar totalmente à lassidão. Da próxima vez que me flagrar pagando conta de luz às duas da tarde, vou desligar o computador, fechar os olhos e repetir os versos de Fernando Pessoa: "Ai que prazer/ Não cumprir um dever,/ Ter um livro para ler/ E não o fazer!/ Ler é maçada,/ Estudar é nada./ O sol doira/ Sem literatura./ O rio corre, bem ou mal/Sem edição original./ E a brisa, essa/ De tão naturalmente matinal,/ Como tem tempo não tem pressa...".

Nós temos pressa. Trabalhar é importante. Vagabundear é urgente. Procrastinar, não, minha gente.

Lucimar Mutarelli

terça-feira, 29 de maio de 2012

Fará um ano desde a auto-intervenção. Há pouco mais de um ano desde que conheci minha ruiva preferida. Pouco mais de um ano desde um texto meu na tertúlia que tenha amado. 3 anos que o mj morreu. Uns 3 ou 4 anos desde o meu primeiro cigarro. E faz 5 ou 6 anos desde a minha primeira cerveja. 7 anos desde que eu amei alguém pela primeira vez. Quase 10 que eu ouvi Heart Shaped Box pela primeira vez. 11 anos desde as torres gêmeas. Mais de 13 anos que eu descobri que preferiria perder o fígado a ficar surda. E eu: "caralho, o tempo realmente passa."


Ou não.

sábado, 26 de maio de 2012

cashback movie


"But the reality was much more sexually agressive."

"'Crush'. It's funny how the same word for the feeling of attraction is used for the feeling of disappointment."

quarta-feira, 9 de maio de 2012

question

Body my house
my horse my hound
what will I do
when you are fallen

Where will I sleep
How will I ride
What will I hunt

Where can I go
without my mount
all eager and quick
How will I know
in thicket ahead
is danger or treasure
when Body my good
bright dog is dead

How will it be
to lie in the sky
without roof or door
and wind for an eye

With cloud for shift
how will I hide?
May Swenson

sexta-feira, 4 de maio de 2012