segunda-feira, 21 de abril de 2014

A morte agora vem em silêncio. Faz visitas mais longas, em silêncio. E me acaricia em silêncio, tão delicadamente que, a princípio, passa despercebida e, ao final, já não é mais visita. Me oferece, em silêncio, colo, e me permite observar o póstumo. Sem pressa. Não diz meu nome. Suspira em silêncio.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

sobreviva

Eu previ, sem querer, teu sangue fora de tuas veias
E quis com toda a força pensar não ser inevitável
Eu tentei com real força crer no mesmo que terceiros
Crer que encontrarias um contorno razoável
Pra toda e cada adaga lançada a teu peito
Lentamente

Eu previ, sem querer, apesar de tentar crer
Que tu serias mais forte
Que todos os golpes
Encaixando em minha mente toda a força
Em algum lugar do teu pequeno corpo

Não consigo chorar e nem saber
Se não choro porque já sabia
Porque verdadeiramente eu vi acontecer

Previ também que tu sobreviverias

                   Agora
espero

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

outro feminicídio

Estávamos na galeria do rock no andar subterrâneo comprando uma camiseta do Sabotage quando pessoas começam a gritar. Primeiro imaginei que fosse brincadeira de bar, mas percebi serem gritos de desespero, e então vi algumas pessoas correndo — correndo atrás de alguém. Me aproximei da porta do bar, veio um funcionário ou amigo da loja dizer que parecia que alguém tentara suicídio lá dentro e, depois de ir e voltar, corrigiu a declaração dizendo que alguém sofrera uma tentativa de assassinato.

Me aproximei da porta novamente, vi pernas estiradas e sangue pelo chão.

"É, cara, foi um mano, ele tá doidão, saiu correndo lá, esfaqueou a menina e correu, e ela tá lá caída, mano, a garganta aberta, cê viu? Viu não? É muito sangue. Tiraram a camisa pra botar no pescoço dela. Tá lá, sangrando. Vai viver não, mano."

Uma mulher foi degolada dentro do bar por volta das 16h30 da tarde. As pessoas foram interrompidas — tiveram de parar de beber, parar de falar, parar de rir, parar de olhar, parar de amar; alguém foi degolado dentro do bar. Uma mulher. Pelo ex-marido. Ou é o que parece. Parece outro feminicídio.

Alguém chamou a ambulância? É claro que todos chamaram a ambulância. E é claro que a ambulância não veio a tempo. E é claro que todos vieram olhar a ferida aberta na garganta da ex-mulher do assassino. Sabíamos que devia ser um caso desses, tínhamos certeza. E saímos de lá quase sabendo que ela morreria, mas eu tinha uma ponta de esperança de que o patife fosse à cadeia e viesse ela de volta à vida. Não veio.

É assim que é.

terça-feira, 23 de julho de 2013

o mundo abafa os próprios pontos de calor. vão sucumbindo, um a um, levando consigo o sentido inexistente da Terra.

i don't like it here.

quarta-feira, 29 de maio de 2013

uma boa visão torna tudo o que é frio e úmido previsível. o importante é encontrar os pontos de calor na terra. easter eggs.

o calor dos esconjuros sob a máscara de danças, dos dedos e dos licores. o calor das letras abrasivas e dos olhares íntimos. o calor das transparências.

o calor de mim, de ninguém, de todo mundo. o calor do que nos torna voláteis.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

.

não tem nada que me irrite mais que a sensação estar calado mesmo que eu esteja gritando.

terça-feira, 5 de março de 2013


Depois desses atritos fúteis e não fúteis que se dão durante essa caminhada sem nexo, certas peles tornam-se repelentes, elétricas. Ou hipersensíveis.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013


pay no mind, i'm doing fine
i'm breathing on my own

i'm here and i'm on the mend, my friend


ff   .

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

A música deve ser alheia ao outros, presa somente a ti.

Não prenda os sons que te elevam a outrem.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Sonhei que desintegrava. Sonhei que, amargamente, cada fração de mim se ia, pairando sob um meio termo entre luz e trevas, e se dissolvia no ar. Amarga e vividamente. Vividamente, ia para todo canto, todo canto de todo lugar, cada partícula minha que antes formava o todo, cada uma num sítio repugnante ou sublime, e apenas pairava e era, e não mais ponderava, apenas era. E quando dissolveu-se a última partícula, aí sim, aí somente, havia conforto.

Entretanto, despertei.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Tenho uma relação de amor e ódio com o metrô (nada funcional ou politicamente falando).
O túnel que cala e impede o olhar. Que interrompe e também traz a fala lânguida, agradável.
Os loucos na ruas.
Os psicologicamente,
quimicamente,
fisiologicamente,
loucos.

Todos.

A caixa acústica.

O trânsito.

O nada(r).

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Ser capturado por um par de olhos e perceber que esse par de olhos estava observando você.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

"Deixe-me envolver-te", diz. Tão amorável. "Aqui estou, esperando para abraçar-te".

Soa como o mar, soa distante. Não distante propriamente, mas tão distante quanto o lugar a que se chegaria de mãos dadas. Reminiscentemente. Como o calor da guimba compartilhada, que citara antes. Como lençóis usados. Mornos. Como calafrios felizmente previsíveis. Como os mesmos automóveis passeando pelas mesmas avenidas todos os dias, o som familiar sem o qual não se dorme.

Soa e ressoa...

autofágico

sem palavras


quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Querida Voy a Comprar Cigarillos y Vuelvo


"Sabe de uma coisa carinha? Você está tecnicamente louco. Porque você perdeu tudo. Tudo, menos a razão."

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Tanner Hall


"Knowing each other's darkest moments somehow connected us and redeemed us. The way two negatives make a positive. The way your eyes adjust to the dark."

com Rooney Mara. Muah.

terça-feira, 7 de agosto de 2012

E eu, que amo poesia e não digo, que odeio tudo que escrevem, que sofro com Quintana, tão triste e sozinho naquele quarto de hotel, que me mato ouvindo Cecília e Clarice chorando aos meus ouvidos, que volto no tempo e tento entender Noel e Augusto, que chuto Oswald e abraço Mário, que finjo que eles não existem que é pro mundo não ver a dor que eles compartilham comigo e só comigo, perco as forças, me derreto, esqueço quem sou e que é poesia, quando te vejo escrita, quando te leio, e com você...

Cristal Magalhães Neves

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Reminiscência. Remi. Mimi. Niscê. Cência. Filha, apelido, não lembro, eu vou esquecer, me lembra, Reminiscência.

Fernanda Ninomya Egashira, stoned

domingo, 5 de agosto de 2012

"Opiniões.
As pessoas estão cheias delas.
E eu estou cheio delas.
Delas e das pessoas.
(...)
Aqui se escreve um testamento.
Aqui se faz aqui se paga.
Aqui se nega um juramento.
Aqui se nasce aqui se mata.
(...)
Já eu.
Eu não.
Eu não quero e não sei.
E já nem quero saber.
(...)
Só sei que pulso.
Pulso e sangro.
Não sei mais nada.
Nem sei se quero.

***

Era só um dia igual.
Ele abriu os olhos.
Sentiu o vazio.
Boneco do posto.
Cheio de vento.
Ele coçou a cabeça.
Cabelo ensebado.
Ele sente preguiça.
Preguiça da vida.
Era uma vez uma história.
Daquelas sem a mínima graça.
Sem porquinho, sem carneiro, sem pato feio.
Daquelas que você cansou de ouvir.
E cansou de viver.
No silêncio os subtítulos são dispensáveis.
E o filme é ridículo.
Ator podre.
Tradução medíocre do título original para o português.
Cenários que não se encaixam.
Era só um dia igual.

***

Segui pela rua da quitanda.
Suja.
Cachorro magro e velho na porta.
E eu odeio pombo.
Símbolo da paz.
Nunca estou em paz.
Penso em um monge budista com o rabo entupido de anfetamina.
Ele também odiaria pombo.
E usaria cinta liga.
Nirvana o caralho.
Passo aqui todo dia.
Cheira mal.
Deve ser o cachorro.
Café puro.
O pombo da quitanda cisca no chão do bar.
Rato com asa.
Agindo feito galinha.
O tiozinho no outro lado do balcão olha pra mim.
Nove e meia da manhã.
Deve ser sua terceira pinga já.
Tá em conserva.
Moribundo no formol.
Por isso não morre.
Por isso todo dia está alí.
Deve ser ele que fede.
Calendário de cerveja com mulher peituda.
Tão bonita que deve ser um saco.
Não tenho saco pra mulher assim.
Sorriso branco.
Peito e cerveja.
TPM, dívida, reclamação.
O Photoshop denuncia seu espírito.
Prefiro o cachorro, o pombo e o tiozinho.
E olha que eu odeio pombo.
No meu café não tem mulher peituda.
Mas tem um reflexo escuro.
Que eu queria esquecer.

***

Quando eu era criança tinha uma mulher velha que jogava um palito de fósforo aceso no café e via o futuro na mancha que fazia quando o palito apagava.
Sempre me levavam lá pra tirar quebrante.
Ficava nessa mesma rua aqui da quitanda.
Acho.
Tipo mais lá pra baixo.
Uma vez eu tomei um fora na escola e chorei em casa.
Minha mãe achou que era quebrante.
A velha jogou o fósforo.
Falou que era amor.
No dia seguinte foi a mesma merda.
Botei a culpa na velha.
Depois com o tempo descobri que o problema era o café.
Porque café não tem nada a ver com amor.
Café desce rasgando e te deixa ligado.
Amor não.
Amor é tipo leite.
Tem prazo de validade curto e azeda muito rápido.
E longa vida tem conservante.
Uma mentira embalada.
Só parece seguro porque está em uma caixinha.
Depois que abre é igual a qualquer outro.
Não sei como chorei por aquela ridícula da escola.
Ela era horrível.
Amor é tipo isso, derivado de leite com embalagem bonita na geladeira do mercado.
Você quer muito, as vezes fica doente de vontade, mas depois que bebe vê que nem foi tudo aquilo.
E sem as embalagens, no fundo, danone, queijo, manteiga... é tudo a mesma merda.
Fica lá em você boiando até sumir.
Teu corpo absorve o bom.
E o ruim vai embora."





Altro, Nenê. Os Funerais do Coelho Branco
E percebo que a parte de mim que havia nela talvez seja responsável por tudo que de insuportável aconteceu.

sábado, 4 de agosto de 2012

quando

Ela se disse abandonada uma vez. Não por alguém. Falava daquela fenda que se tem no estômago quando se ama, ou não se ama, mas se imagina e pensa realmente no amor. Talvez seja mais como um tijolo dentro do peito, colando-nos ao chão. Ou, como eu costumava dizer, quando se tem o estômago pequeno. E ninguém — ninguém — por perto.

Ela chorou algumas vezes por conta de algo digno de tonar-se uma expressão tertuliana: álcool e Caio Fernando Abreu. Lemos em voz alta, e bebemos, e fumamos, e bebemos, e bebemos, e lemos em voz alta outra vez. E ela chorou algumas vezes.

Continuei a ler o texto que havia começado sentindo na boca algo como um conforto familiar que se percebe na quentura da guimba de um cigarro compartilhado com alguém por quem se tem grande ternura, grande amor, grande amizade, grande, grande, quando ela beijou-me. Foi só um beijo. Só um beijo. E até ri. Rimos.

E a escuridão e a fumaça e a quentura cabiam ali. Tudo cabia ali. Tinha o vinho quente e as pombas brancas. E amanheceu. Amanheceu na pele dela e nos meus olhos e no meu cobertor. Amanheceu.

domingo, 29 de julho de 2012

"YOUR LIFE IS NOT AN EPISODE OF SKINS. THINGS WILL NEVER LOOK QUITE AS GOOD AS THEY DO IN A FADED, SUN-DRENCHED POLAROID; YOUR DAYS ARE NOT AN EDITORIAL FROM LULA. YOUR LIFE IS NOT A SOFIA COPPOLA MOVIE, OR A CHUCK PALAHNIUK NOVEL, OR A CHARLES BUKOWSKI POEM. GRACE CODDINGTON ISN’T YOUR CREATIVE DIRECTOR. BON IVER AND JOY DIVISION DON’T PLAY SOFTLY IN THE BACKGROUND AT APPROPRIATE MOMENTS. YOUR HYSTERICAL TEENAGE DIARY ISN’T A WORK OF ART. YOUR ROOM PROBABLY ISN’T SELBY MATERIAL. YOUR LIFE ISN’T A TUMBLR SCREENCAP. EVERY WORD THAT COMES OUT OF YOUR MOUTH WILL NOT BE BEAUTIFUL AND POIGNANT, INFINITELY QUOTABLE. YOUR PAIN WILL NOT BE PRETTY. CRYING TILL YOU VOMIT IS ALWAYS SHIT. YOU CANNOT ROMANTICIZE HURT. OR SADNESS. OR LONELINESS. YOU WILL HAVE HOMEWORK, AND HANGOVERS AND BAD HAIR DAYS. THE TRAIN BEING LATE WON’T LEAD TO ANY FATEFUL ENCOUNTERS, IT WILL MAKE YOU LATE. SOMETIMES YOUR WORK WILL SUCK. SOMETIMES YOU WILL SUCK. FAR TOO OFTEN, EVERYTHING WILL SUCK - AND NOT IN A WES ANDERSON KIND OF WAY. AND THERE IS NO DIVINE CONSOLATION - ONLY THE KNOWLEDGE THAT WE WILL HOPEFULLY EXPERIENCE THE FULL SPECTRUM - AND THAT SOMETIMES, JUST SOMETIMES, LIFE WILL FEEL LIKE A COPPOLA FILM."

some Malena

terça-feira, 24 de julho de 2012

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Pintalegrete, erótico, intenso.
E são só dois — Linda e Mathias. Bateria e guitarra, habilidosa e convenientemente, respectivamente.
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domingo, 22 de julho de 2012

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acho que, num sentido geral, os fatos e reações e passar dos dias resumem-se a simplesmente "apatia".

segunda-feira, 16 de julho de 2012

define reminiscência

Doesn't Remind Me
Audioslave
.
I walk the streets of Japan till I get lost
Cause it doesn't remind me of anything
With a graveyard tan carrying a cross
Cause it doesn't remind me of anything
I like studying faces in a parking lot
Cause it doesn't remind me of anything
I like driving backwards in the fog
Cause it doesn't remind me of anything
.
The things that I've loved the things that I've lost
The things I've held sacred that I've dropped
I won't lie no more you can bet
I don't want to learn what I'll need to forget
.
I like gypsy moths and radio talk
Cause it doesn't remind me of anything
I like gospel music and canned applause
Cause it doesn't remind me of anything
I like colorful clothing in the sun
Cause it doesn't remind me of anything
I like hammering nails and speaking in tongues
Cause it doesn't remind me of anything
.
The things that I've loved the things that I've lost
The things I've held sacred that I've dropped
I won't lie no more you can bet
I don't want to learn what I'll need...
.
Bend and shape me
I love the way you are
Slow and sweetly
Like never before
.
Calm and sleeping
We won't stir up the past
So descretely
We won't look back
.
The things that I've loved the things that I've lost
The things I've held sacred that I've dropped
I won't lie no more you can bet
I don't want to learn what I'll need...
.
I like throwing my voice and breaking guitars
Cause it doesn't remind me of anything
I like playing in the sand what's mine is ours
If it doesn't remind me of anything

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Não compreendo, nunca compreendi, esse tanto de gente que só conhece gente errada, que se endurece (também) por conta da dureza dos outros, frequente.

Sei, porém, que essa certa fúria, cedo ou tarde, amansa. Mas quanta gente errada faz a gente errar também?
E se você parar pra pensar, a reação nem sempre mira pra o lugar de onde veio a ação. E mal se percebe. E é normal, e é terrível, e também fascinante.

É como uma fila de peças de dominó em proporções gigantescas e muito mais catastróficas. Isso porque quem derrubou a primeira peça o possa ter feito sem a mínima intenção — mas elas continuam desabando, tombando umas sobre e sob as outras, inconscientes, inconsequentes.

terça-feira, 10 de julho de 2012

de temps à autre en 2012

Quando diz "gosto de trabalhar com você".
Quando diz "só um segundo" antes de lançar-se e, momentos depois, despeja-se, lânguida, sobre seu peito e então retorna: "O que você ia dizer?".
Quando tenta evitar um sorriso quando o ouve fazer-lhe um comentário elogioso.
Quando seu rosto denota claramente seu despedaçar-se e a neve permanece caindo, indiferente, em torno dela.
Quando sua expressão torna-se dura e nota-se seus pensamentos quase audíveis de auto-penalização, e dá meia volta.
Quando ela desaparece.

Há sempre um rastro seu. Sempre.

E vou ganhando platonices.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

quarta-feira, 27 de junho de 2012

"A good memory is fine but the ability to  forget is the one true test of greatness"
"porque o amor (e seu texto me fez lembrar dele), o amor é abandono, o amor é sozinho, só nosso."

Cecília