quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Sonhei que desintegrava. Sonhei que, amargamente, cada fração de mim se ia, pairando sob um meio termo entre luz e trevas, e se dissolvia no ar. Amarga e vividamente. Vividamente, ia para todo canto, todo canto de todo lugar, cada partícula minha que antes formava o todo, cada uma num sítio repugnante ou sublime, e apenas pairava e era, e não mais ponderava, apenas era. E quando dissolveu-se a última partícula, aí sim, aí somente, havia conforto.

Entretanto, despertei.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Tenho uma relação de amor e ódio com o metrô (nada funcional ou politicamente falando).
O túnel que cala e impede o olhar. Que interrompe e também traz a fala lânguida, agradável.
Os loucos na ruas.
Os psicologicamente,
quimicamente,
fisiologicamente,
loucos.

Todos.

A caixa acústica.

O trânsito.

O nada(r).

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Ser capturado por um par de olhos e perceber que esse par de olhos estava observando você.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

"Deixe-me envolver-te", diz. Tão amorável. "Aqui estou, esperando para abraçar-te".

Soa como o mar, soa distante. Não distante propriamente, mas tão distante quanto o lugar a que se chegaria de mãos dadas. Reminiscentemente. Como o calor da guimba compartilhada, que citara antes. Como lençóis usados. Mornos. Como calafrios felizmente previsíveis. Como os mesmos automóveis passeando pelas mesmas avenidas todos os dias, o som familiar sem o qual não se dorme.

Soa e ressoa...

autofágico

sem palavras


quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Querida Voy a Comprar Cigarillos y Vuelvo


"Sabe de uma coisa carinha? Você está tecnicamente louco. Porque você perdeu tudo. Tudo, menos a razão."

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Tanner Hall


"Knowing each other's darkest moments somehow connected us and redeemed us. The way two negatives make a positive. The way your eyes adjust to the dark."

com Rooney Mara. Muah.

terça-feira, 7 de agosto de 2012

E eu, que amo poesia e não digo, que odeio tudo que escrevem, que sofro com Quintana, tão triste e sozinho naquele quarto de hotel, que me mato ouvindo Cecília e Clarice chorando aos meus ouvidos, que volto no tempo e tento entender Noel e Augusto, que chuto Oswald e abraço Mário, que finjo que eles não existem que é pro mundo não ver a dor que eles compartilham comigo e só comigo, perco as forças, me derreto, esqueço quem sou e que é poesia, quando te vejo escrita, quando te leio, e com você...

Cristal Magalhães Neves

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Reminiscência. Remi. Mimi. Niscê. Cência. Filha, apelido, não lembro, eu vou esquecer, me lembra, Reminiscência.

Fernanda Ninomya Egashira, stoned

domingo, 5 de agosto de 2012

"Opiniões.
As pessoas estão cheias delas.
E eu estou cheio delas.
Delas e das pessoas.
(...)
Aqui se escreve um testamento.
Aqui se faz aqui se paga.
Aqui se nega um juramento.
Aqui se nasce aqui se mata.
(...)
Já eu.
Eu não.
Eu não quero e não sei.
E já nem quero saber.
(...)
Só sei que pulso.
Pulso e sangro.
Não sei mais nada.
Nem sei se quero.

***

Era só um dia igual.
Ele abriu os olhos.
Sentiu o vazio.
Boneco do posto.
Cheio de vento.
Ele coçou a cabeça.
Cabelo ensebado.
Ele sente preguiça.
Preguiça da vida.
Era uma vez uma história.
Daquelas sem a mínima graça.
Sem porquinho, sem carneiro, sem pato feio.
Daquelas que você cansou de ouvir.
E cansou de viver.
No silêncio os subtítulos são dispensáveis.
E o filme é ridículo.
Ator podre.
Tradução medíocre do título original para o português.
Cenários que não se encaixam.
Era só um dia igual.

***

Segui pela rua da quitanda.
Suja.
Cachorro magro e velho na porta.
E eu odeio pombo.
Símbolo da paz.
Nunca estou em paz.
Penso em um monge budista com o rabo entupido de anfetamina.
Ele também odiaria pombo.
E usaria cinta liga.
Nirvana o caralho.
Passo aqui todo dia.
Cheira mal.
Deve ser o cachorro.
Café puro.
O pombo da quitanda cisca no chão do bar.
Rato com asa.
Agindo feito galinha.
O tiozinho no outro lado do balcão olha pra mim.
Nove e meia da manhã.
Deve ser sua terceira pinga já.
Tá em conserva.
Moribundo no formol.
Por isso não morre.
Por isso todo dia está alí.
Deve ser ele que fede.
Calendário de cerveja com mulher peituda.
Tão bonita que deve ser um saco.
Não tenho saco pra mulher assim.
Sorriso branco.
Peito e cerveja.
TPM, dívida, reclamação.
O Photoshop denuncia seu espírito.
Prefiro o cachorro, o pombo e o tiozinho.
E olha que eu odeio pombo.
No meu café não tem mulher peituda.
Mas tem um reflexo escuro.
Que eu queria esquecer.

***

Quando eu era criança tinha uma mulher velha que jogava um palito de fósforo aceso no café e via o futuro na mancha que fazia quando o palito apagava.
Sempre me levavam lá pra tirar quebrante.
Ficava nessa mesma rua aqui da quitanda.
Acho.
Tipo mais lá pra baixo.
Uma vez eu tomei um fora na escola e chorei em casa.
Minha mãe achou que era quebrante.
A velha jogou o fósforo.
Falou que era amor.
No dia seguinte foi a mesma merda.
Botei a culpa na velha.
Depois com o tempo descobri que o problema era o café.
Porque café não tem nada a ver com amor.
Café desce rasgando e te deixa ligado.
Amor não.
Amor é tipo leite.
Tem prazo de validade curto e azeda muito rápido.
E longa vida tem conservante.
Uma mentira embalada.
Só parece seguro porque está em uma caixinha.
Depois que abre é igual a qualquer outro.
Não sei como chorei por aquela ridícula da escola.
Ela era horrível.
Amor é tipo isso, derivado de leite com embalagem bonita na geladeira do mercado.
Você quer muito, as vezes fica doente de vontade, mas depois que bebe vê que nem foi tudo aquilo.
E sem as embalagens, no fundo, danone, queijo, manteiga... é tudo a mesma merda.
Fica lá em você boiando até sumir.
Teu corpo absorve o bom.
E o ruim vai embora."





Altro, Nenê. Os Funerais do Coelho Branco
E percebo que a parte de mim que havia nela talvez seja responsável por tudo que de insuportável aconteceu.

sábado, 4 de agosto de 2012

quando

Ela se disse abandonada uma vez. Não por alguém. Falava daquela fenda que se tem no estômago quando se ama, ou não se ama, mas se imagina e pensa realmente no amor. Talvez seja mais como um tijolo dentro do peito, colando-nos ao chão. Ou, como eu costumava dizer, quando se tem o estômago pequeno. E ninguém — ninguém — por perto.

Ela chorou algumas vezes por conta de algo digno de tonar-se uma expressão tertuliana: álcool e Caio Fernando Abreu. Lemos em voz alta, e bebemos, e fumamos, e bebemos, e bebemos, e lemos em voz alta outra vez. E ela chorou algumas vezes.

Continuei a ler o texto que havia começado sentindo na boca algo como um conforto familiar que se percebe na quentura da guimba de um cigarro compartilhado com alguém por quem se tem grande ternura, grande amor, grande amizade, grande, grande, quando ela beijou-me. Foi só um beijo. Só um beijo. E até ri. Rimos.

E a escuridão e a fumaça e a quentura cabiam ali. Tudo cabia ali. Tinha o vinho quente e as pombas brancas. E amanheceu. Amanheceu na pele dela e nos meus olhos e no meu cobertor. Amanheceu.

domingo, 29 de julho de 2012

"YOUR LIFE IS NOT AN EPISODE OF SKINS. THINGS WILL NEVER LOOK QUITE AS GOOD AS THEY DO IN A FADED, SUN-DRENCHED POLAROID; YOUR DAYS ARE NOT AN EDITORIAL FROM LULA. YOUR LIFE IS NOT A SOFIA COPPOLA MOVIE, OR A CHUCK PALAHNIUK NOVEL, OR A CHARLES BUKOWSKI POEM. GRACE CODDINGTON ISN’T YOUR CREATIVE DIRECTOR. BON IVER AND JOY DIVISION DON’T PLAY SOFTLY IN THE BACKGROUND AT APPROPRIATE MOMENTS. YOUR HYSTERICAL TEENAGE DIARY ISN’T A WORK OF ART. YOUR ROOM PROBABLY ISN’T SELBY MATERIAL. YOUR LIFE ISN’T A TUMBLR SCREENCAP. EVERY WORD THAT COMES OUT OF YOUR MOUTH WILL NOT BE BEAUTIFUL AND POIGNANT, INFINITELY QUOTABLE. YOUR PAIN WILL NOT BE PRETTY. CRYING TILL YOU VOMIT IS ALWAYS SHIT. YOU CANNOT ROMANTICIZE HURT. OR SADNESS. OR LONELINESS. YOU WILL HAVE HOMEWORK, AND HANGOVERS AND BAD HAIR DAYS. THE TRAIN BEING LATE WON’T LEAD TO ANY FATEFUL ENCOUNTERS, IT WILL MAKE YOU LATE. SOMETIMES YOUR WORK WILL SUCK. SOMETIMES YOU WILL SUCK. FAR TOO OFTEN, EVERYTHING WILL SUCK - AND NOT IN A WES ANDERSON KIND OF WAY. AND THERE IS NO DIVINE CONSOLATION - ONLY THE KNOWLEDGE THAT WE WILL HOPEFULLY EXPERIENCE THE FULL SPECTRUM - AND THAT SOMETIMES, JUST SOMETIMES, LIFE WILL FEEL LIKE A COPPOLA FILM."

some Malena

terça-feira, 24 de julho de 2012

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Pintalegrete, erótico, intenso.
E são só dois — Linda e Mathias. Bateria e guitarra, habilidosa e convenientemente, respectivamente.
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domingo, 22 de julho de 2012

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acho que, num sentido geral, os fatos e reações e passar dos dias resumem-se a simplesmente "apatia".

segunda-feira, 16 de julho de 2012

define reminiscência

Doesn't Remind Me
Audioslave
.
I walk the streets of Japan till I get lost
Cause it doesn't remind me of anything
With a graveyard tan carrying a cross
Cause it doesn't remind me of anything
I like studying faces in a parking lot
Cause it doesn't remind me of anything
I like driving backwards in the fog
Cause it doesn't remind me of anything
.
The things that I've loved the things that I've lost
The things I've held sacred that I've dropped
I won't lie no more you can bet
I don't want to learn what I'll need to forget
.
I like gypsy moths and radio talk
Cause it doesn't remind me of anything
I like gospel music and canned applause
Cause it doesn't remind me of anything
I like colorful clothing in the sun
Cause it doesn't remind me of anything
I like hammering nails and speaking in tongues
Cause it doesn't remind me of anything
.
The things that I've loved the things that I've lost
The things I've held sacred that I've dropped
I won't lie no more you can bet
I don't want to learn what I'll need...
.
Bend and shape me
I love the way you are
Slow and sweetly
Like never before
.
Calm and sleeping
We won't stir up the past
So descretely
We won't look back
.
The things that I've loved the things that I've lost
The things I've held sacred that I've dropped
I won't lie no more you can bet
I don't want to learn what I'll need...
.
I like throwing my voice and breaking guitars
Cause it doesn't remind me of anything
I like playing in the sand what's mine is ours
If it doesn't remind me of anything

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Não compreendo, nunca compreendi, esse tanto de gente que só conhece gente errada, que se endurece (também) por conta da dureza dos outros, frequente.

Sei, porém, que essa certa fúria, cedo ou tarde, amansa. Mas quanta gente errada faz a gente errar também?
E se você parar pra pensar, a reação nem sempre mira pra o lugar de onde veio a ação. E mal se percebe. E é normal, e é terrível, e também fascinante.

É como uma fila de peças de dominó em proporções gigantescas e muito mais catastróficas. Isso porque quem derrubou a primeira peça o possa ter feito sem a mínima intenção — mas elas continuam desabando, tombando umas sobre e sob as outras, inconscientes, inconsequentes.

terça-feira, 10 de julho de 2012

de temps à autre en 2012

Quando diz "gosto de trabalhar com você".
Quando diz "só um segundo" antes de lançar-se e, momentos depois, despeja-se, lânguida, sobre seu peito e então retorna: "O que você ia dizer?".
Quando tenta evitar um sorriso quando o ouve fazer-lhe um comentário elogioso.
Quando seu rosto denota claramente seu despedaçar-se e a neve permanece caindo, indiferente, em torno dela.
Quando sua expressão torna-se dura e nota-se seus pensamentos quase audíveis de auto-penalização, e dá meia volta.
Quando ela desaparece.

Há sempre um rastro seu. Sempre.

E vou ganhando platonices.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

quarta-feira, 27 de junho de 2012

"A good memory is fine but the ability to  forget is the one true test of greatness"
"porque o amor (e seu texto me fez lembrar dele), o amor é abandono, o amor é sozinho, só nosso."

Cecília

terça-feira, 19 de junho de 2012

neutral star collision my ass

Às vezes, pode sim ser a pior coisa que te acontece. Vem o outro e te atinge bem na lateral, te fodendo toda a lataria e a pintura, e você, por algum motivo, imagina que o estrago foi feio pros dois. Mas quando ele vai embora, você percebe que no outro foi só um pequeno arranhão no qual ele provavelmente vai conseguir dar um jeito na própria garagem. E você lá, com as rodas tortas, sem seguro nem reboque.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

— Que há contigo? — perguntou. Como a conhecia, Cila não teve a impressão de que Clara não esperava resposta só por não ter permanecido ao pé da cama onde estava e foi manejando pela sala mesmo a cafeteira só nas sandálias e roupas de baixo.
— Não há nada — respondeu Cila. Nas paredes, todas próximas demais, já escorria a fumaça de seus cigarros de palha e cravo toda vez que se tomava um banho demasiado quente e demorado. Seus banhos eram quase todos demasiado quentes e demorados. Pensou na banheira pequena onde sempre se achava espaço para as duas e de onde só se saía quando a água já estava a gelar.
— Pareces cabisbaixa — retrucou Clara, e trouxe-lhe uma xícara de café, roubando-lhe um dos cigarros; pôs o cinzeiro entre as pernas, a fumaça lhe subia por entre os peitos pequenos, redondos, os poros despontando de frio.
— Encontro-me recostada à beira da cama. Como posso estar cabisbaixa? —disse-lhe Cila, puxando para si a perna que Clara não abraçava para sentir sua pele na dela mais que sempre; bebericou da xícara.
— Teus olhos. Estão fundos.
Permaneceram em silêncio. Cila comunicando com as pupilas o que estava a evitar dizer com as palavras.
— Diga-me — Clara tocou-lhe o braço.
— Estou a perder a vista.
— Deixe disso, conte-me o que há.
— Estou a perder a vista.
Clara não disse nada. Esperava, na realidade, que fosse Cila e um de seus melindres ou dramas. Cila contornou com os dedos finos as pernas e os dedos e as mãos e os cabelos e os seios e as pintas de Clara.
— Tenho a consciência em mim crescente de que, em breve, tão breve quanto um milésimo de segundo, porque tempo nenhum ao teu redor é bastante, não poderei mais analisar os teus centímetros a todo minuto de todo dia como pretendia, e iluminar-me com os pontos de luz que tem teu corpo, nem resfolegar quando surges nua na cozinha, nem observar-te enquanto te vestes, imaginando tuas curvas sob os panos.
— Deixe disso, não será nada. Venha às torradas, que te preparei o pequeno almoço — Clara agarrou-lhe os dedos, Cila a trouxe de volta para a cama.
— Deixe que te olhe. Quero que, dentre toda e qualquer imagem, seja a tua a permanecer mais nítida e viva e fugaz em minha memória. Deixe que te olhe.
E permaneceram em silêncio.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

trechos do 'ensaio sobre a cegueira', saramago

"Com o andar dos tempos, mais as actividades da convivência e as trocas genéticas, acabámos por meter a consciência na cor do sangue e no sal das lágrimas, e, como se tanto fosse pouco, fizemos dos olhos uma espécie de espelhos virados para dentro, com o resultado, muitas vezes, de mostrarem eles sem reserva o que estávamos tratando de negar com a boca."

"É dessa massa que nós somos feitos, metade de indiferença e metade de ruindade"
O Médico

"O médico identificou-se quando responderam, depois disse rapidamente, Bem, muito obrigado, sem dúvida a telefonista perguntara, Como está, senhor doutor, é o que dizemos quando não queremos dar parte de fraco, dissemos, Bem, e estávamos a morrer, a isto chama o vulgo fazer das tripas coração, fenómeno de conversão visceral que só na espécie humana tem sido observado."

terça-feira, 12 de junho de 2012

numb

Eventually, resignation comes. Sooner or later you accept the fact that, still, you kept those feelings. The good ones. And being like this, so resigned, admitting you unfortunately still like her and think of her curves and smiles, gets you to see the confusion in falling in and out of love and hate, being slowly ripped apart by your emotions in such a silent way that you get that feeling of... a fog.

You just gave up on forgetting and trying to avoid thinking about her crazy, nervous, imposing and amazed expressions and her hands curling in the air as she speaks. You started dancing slowly with your memories as they slide through you and skim and rub your neck and cheeks.

As people talk about their last heartbreaks and how they got over them, you consider entering the flag football team or go back to skate boarding. Maybe you'll stop listening to Marilyn Manson, even though you’ve always been the one to never give up on your favorite music because of anyone else, no matter who. You think about quitting your job because it’s close to hers. You see that maybe you could be less like yourself to be less like her who, disgustingly for you, someway and somehow became a part of you.


But in your arrogance you make an effort to compare yourself to people whose scars became a kind of ornament, handling your suffering with a very silly kind of pride. But that’s where you draw the line. Because until then… Yes, you will maybe consider being less like yourself to be less like her.

domingo, 10 de junho de 2012

natureza viva

À memória de Orlando Bernardes

Como você sabe, dirás feito um cego tateando, e dizer assim, supondo um conhecimento prévio, faria quem sabe o coração do outro adoçar um pouco até prosseguires, mas sem planejar, embora planejes há tanto tempo, farás coisas como acender o abajur do canto depois de apagar a luz mais forte no alto, criando um clima assim mais íntimo, mais acolhedor, que não haja tensão alguma no ar, mesmo que previamente saibas do inevitável das palmas molhadas de tuas mãos, do excesso de cigarros e qualquer coisa como um leve tremor que, esperas, não transparecerá em tua voz. Mas dirás assim, por exemplo, como você sabe, a gente, as pessoas infelizmente têm, temos, essa coisa, as emoções, mas te deténs, infelizmente? o outro talvez perguntaria por que infelizmente? então dirás rápido, para não te desviares demasiado do que estabeleceste, qualquer coisa como seria tão bom se pudéssemos nos relacionar sem que nenhum dos dois esperasse absolutamente nada, mas infelizmente, insistirás, infelizmente nós, a gente, as pessoas, têm, temos - emoções. Meditarias: as pessoas falam coisas, e por trás do que falam há o que sentem, e por trás do que sentem há o que são e nem sempre se mostra. Há os níveis não formulados, camadas imperceptíveis, fantasias que nem sempre controlamos, expectativas que quase nunca se cumprem e sobretudo, como dizias, emoções. Que nem se mostram. Por tudo isso, infelizmente, repetirás, insistirás completamente desesperado, e teu único apoio será a mão estendida que, passo a passo, raciocinas com penosa lucidez, através de cada palavra estarás quem sabe afastando para sempre. Mas já não sou capaz de me calar, talvez dirás então, descontrolado e um pouco mais dramático, porque meu silêncio já não é uma omissão, mas uma mentira. O outro te olhará com olhos vazios, não entendendo que teu ritmo acompanharia o desenrolar de uma paisagem interna absolutamente não verbalizável, desenhada traço a traço em cada minuto dos vários dias e tantas noites de todos aqueles meses anteriores, recuando até a data maldita ou bendita, ainda não ousaste definir, em que pela primeira vez o círculo magnético da existência de um, por acaso banal ou pura magia, interceptou o círculo do outro.
No silêncio que se faria, pensas, precisarás fazer alguma coisa como colocar um disco ou ensaiar um gesto, mas talvez não faças nada, pois ele continuará te olhando com seus olhos vazios no fundo dos quais procuras, mergulhador submarino, o indício mínimo de algum tesouro escondido para que possas voltar à tona com um sorriso nos lábios e as mãos repletas de pedras preciosas. Mas nesse silêncio que certamente se fará talvez acendas mais um cigarro, e com a seca boca cerrada sem nenhum sorriso, evitarias o mergulho para não correres o risco de encontrar uma fera adormecida. Teu coração baterá com força, sem que ninguém escute, e por um momento talvez imagines que poderias soltar os membros e simplesmente tocá-lo, como se assim conseguisses produzir uma espécie qualquer de encantamento que de repente iluminaria esta sala com aquela luz que tentas em vão descobrir também nele, enquanto dentro de ti ela se faz quase tangível de tão clara. Nítida luz que ele não vê, esse outro sentado a teu lado na sala levemente escurecida, onde os sons externos mal penetram, como se estivessem os dois presos numa bolha de ar, de tempo, de espaço, e novamente encherás o cálice com um pouco mais de vinho para que o líquido descendo por tua garganta trêmula vá ao encontro dessa claridade que tentas, precário, transformar em palavras luminosas para oferecer a ele. Que nada diz, e nada dirás, e sem saber por quê imaginas um extenso corredor escuro onde tateias feito cego, as mãos estendidas para o vazio, pressentindo o nada que tu mesmo prepararias agora, suicida meticuloso, através de silêncios mal tecidos e palavras inábeis, pobre coisa sedente, te feres, exigindo o poço alheio para saciar tua sede indivisível.
Anjos e demônios esvoaçariam coloridos pela sala, mas o caçador de borboletas permanece parado, olhando para a frente, um cigarro aceso na mão direita, um cálice de vinho na mão esquerda. A presença do outro latejaria a teu lado quase sangrando, como se o tivesses apunhalado com tua emoção não dita. Tuas mãos apoiadas em bengalas mentirosas não conseguiriam desvencilhar o gesto para romper essa espessa e invisível camada que te separa dele. Por um momento desejarás então acender a luz, dar uma gargalhada ridícula, acabar de vez com tudo isso, fácil fingir que tudo estaria bem, que nunca houve emoções, que não desejas tocá-lo, que o aceitas assim latejando amigo belo remoto, completamente independente de tua vontade e de todos esses teus informulados sentimentos. No momento seguinte, tão imediato que nascerá, gêmeo tardio, quase ao mesmo tempo que o anterior, desejarás depositar o cálice, apagar o cigarro e estender duas mãos limpas em direção a esse rosto que sequer te olha, absorvido na contemplação de sua própria paisagem interna. Mas indiferente à distância dele, quase violento, de repente queres violar com tua boca ardida de álcool e fumo essa outra boca a teu lado. Desejarás desvendar palmo a palmo esse corpo que há tanto tempo supões, com essa linguagem mesmo de história erótica para moças, até que tua língua tenha rompido todas as barreiras do medo e do nojo, subliterário e impudico continuas, até que tua boca voraz tenha bebido todos os líquidos, tuas narinas sugado todos os cheiros e, alquímico, os tenhas transmutado num só, o teu e o dele, juntos - luz apagada, clichê cinematográfico, peças brancas de roupa cintilando jogadas ao chão.
E desejá-lo assim, com todos os lugares-comuns do desejo, a esse outro tão íntimo que às vezes julgas desnecessário dizer alguma coisa, porque enganado supões que tu e ele vezenquando sejam um só, te encherá o corpo de uma força nova, como se uma poderosa energia brotasse de algum centro longínquo, há muito adormecido, todas as princesas de todos os contos de fada desfilam por tua cabeça, quem sabe dessa luz oculta, e é então que sentes claramente que ele não é tu e que tu não serás ele, esse ser, o outro, que mágico ou demoníaco, deliberado ou casual te inflama assim de tolos ardores juvenis, alucinando tua alma, que o delírio é tanto que até supões ter uma. Queres pedir a ele que simplesmente sendo, te mantenha nesse atormentado estado brilhante para que possas iluminá-lo também com teu toque, tua língua terna, a rija vara de condão de teu desejo. Mas ele nada sabe, nem saberá se permaneceres assim, temeroso de que uma palavra ou gesto desastrados seriam capazes de rasgar em pedaços essa trama onde te enleias cada vez mais sem remédio, emaranhado em ti e tuas ciladas, em tua viva emoção sintética a ponto de parecer real, emaranhado no desconhecido de dentro dele, o outro - que no lado oposto do sofá cruza as mãos sobre os joelhos, quase inocente, esperando atento e educado que de alguma forma termines o que começaste.
Muito mais que com amor ou qualquer outra forma tortuosa da paixão, será surpreso que o olharás agora, porque ele nada sabe de seu poder sobre ti, e neste exato momento poderias escolher entre torná-lo ciente de que dependes dele para que te ilumines ou escureças assim, intensamente, ou quem sabe orgulhoso negar-lhe o conhecimento desse estranho poder, para que não te estraçalhe entre as unhas agora calmamente postas em sossego, cruzadas nas pontas dos dedos sobre os joelhos.
Ah, fumarás demais, beberás em excesso, aborrecerás todos os amigos com tuas histórias desesperadas, noites e noites a fio permanecerás insone, a fantasia desenfreada e o sexo em brasa, dormirás dias adentro, noites afora, faltarás ao trabalho, escreverás cartas que não serão nunca enviadas, consultarás búzios, números, cartas e astros, pensarás em fugas e suicídios em cada minuto de cada novo dia, chorarás desamparado atravessando madrugadas em tua cama vazia, não conseguirás sorrir nem caminhar alheio pelas ruas sem descobrires em algum jeito alheio o jeito exato dele, em algum cheiro estranho o cheiro preciso dele.
Que não suspeitará da tua perdição, mergulhado como agora, a teu lado, na contemplação dessa paisagem interna onde não sabes sequer que lugar ocupas, e nem mesmo se estás nela. Na frente do espelho, nessas manhãs maldormidas, acompanharás com a ponta dos dedos o nascimento de novos fios brancos nas tuas têmporas, o percurso áspero e cada vez mais fundo dos negros vales lavrados sob teus olhos profundamente desencantados. Sabes de tudo sobre esse possível amargo futuro, sabes também que já não poderias voltar atrás, que estás inteiramente subjugado e as tuas palavras, sejam quais forem, não serão jamais sábias o suficiente para determinar que essa porta a ser aberta agora, logo após teres dito tudo, te conduza ao céu ou ao inferno. Mas sabes principalmente, com uma certa misericórdia doce por ti, por todos, que tudo passará um dia, quem sabe tão de repente quanto veio, ou lentamente, não importa. Por trás de todos os artifícios, só não saberás nunca que nesse exato momento tens a beleza insuportável da coisa inteiramente viva. Como um trapezista que só repara na ausência da rede após o salto lançado, acendes o abajur no canto da sala depois de apagar a luz mais forte no alto. E finalmente começas a falar.

Caio Fernando Abreu

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Ars procrastinaria

Temos pressa. Trabalhar é importante. Vagabundear é urgente. Procrastinar, não, minha gente
PROCRASTINAR, SEGUNDO o "Houaiss", é "transferir para outro dia ou deixar para depois; adiar, delongar, postergar, protrair". Mas o que sabem os dicionários? Bichos afoitos, na ânsia de engolir o mundo, mal têm tempo de mastigar cada palavra, de extrair delas todo o sabor e os nutrientes, de modo que a definição acima diz tanto sobre a complexa arte da embromação quanto "forma de interação psicológica ou psicobiológica entre pessoas, seja por afinidade imanente, seja por formalidade social" explica o "amor".

Percebo, porém, que divago. Em vez de encarar o dever proposto no título e falar sobre a procrastinação, a pratico: passeio por enfadonhos arrabaldes, perco-me nas borradas fronteiras da linguagem e do coração. Tudo bem, não há razão para me afligir, pois as crônicas são redondas como a Terra, e às vezes é indo para trás que chegamos ali na frente. Se o parágrafo anterior fugiu à teoria, serve ao menos como demonstração prática do que entendo por procrastinar: adiar alguma obrigação chata arrumando outra atividade igualmente tediosa para pôr em seu lugar.

Veja, caro leitor: ir ao cinema em vez de trabalhar não é procrastinação. É vagabundagem, no melhor sentido do termo. Fazer sexo num sábado de manhã, quando se deveria pendurar estantes, não é procrastinação: é sabedoria, compreensão de que a vida é breve, é besta e que os instintos são muito mais importantes que as estantes. Já abrir o site do banco e ficar digitando a infinita sequência numérica do código de barras de uma conta de luz que só vence no fim de junho, quando se está cheio de trabalho para amanhã, eis o mais nítido retrato da procrastinação. Pois essa praga dispersória é filha de Deus com o Diabo, é um pecado que já vem com penitência. O procrastinador só se permite gozar o adiamento do trabalho maltratando-se no interlúdio. Troca-se de aborrecimento, mais do que dele se desvia; eis como o saci da procrastinação oculta sua presença e surrupia nosso tempo, nossa vida.

Quantas vezes, atrasado na escrita, me pego limpando o antispam, arrumando papéis na gaveta, aceitando solicitações de amizade no Facebook, lendo, na internet, uma matéria sobre a tendência de queda nos juros do financiamento imobi-liário? Nunca, no entanto, nessas inconscientes delongas, me encontro gargalhando com uma crônica do Verissimo, tomando sol no quintal, assistindo a um antigo episódio de "Seinfeld", ouvindo um disco de ska.

A procrastinação é um mal, meus caros, não por arrancar-nos do trabalho, mas por nos grilar o ócio. Não é aferrando-me à labuta, portanto, que pretendo combater este vício, mas buscado forças para me entregar totalmente à lassidão. Da próxima vez que me flagrar pagando conta de luz às duas da tarde, vou desligar o computador, fechar os olhos e repetir os versos de Fernando Pessoa: "Ai que prazer/ Não cumprir um dever,/ Ter um livro para ler/ E não o fazer!/ Ler é maçada,/ Estudar é nada./ O sol doira/ Sem literatura./ O rio corre, bem ou mal/Sem edição original./ E a brisa, essa/ De tão naturalmente matinal,/ Como tem tempo não tem pressa...".

Nós temos pressa. Trabalhar é importante. Vagabundear é urgente. Procrastinar, não, minha gente.

Lucimar Mutarelli

terça-feira, 29 de maio de 2012

Fará um ano desde a auto-intervenção. Há pouco mais de um ano desde que conheci minha ruiva preferida. Pouco mais de um ano desde um texto meu na tertúlia que tenha amado. 3 anos que o mj morreu. Uns 3 ou 4 anos desde o meu primeiro cigarro. E faz 5 ou 6 anos desde a minha primeira cerveja. 7 anos desde que eu amei alguém pela primeira vez. Quase 10 que eu ouvi Heart Shaped Box pela primeira vez. 11 anos desde as torres gêmeas. Mais de 13 anos que eu descobri que preferiria perder o fígado a ficar surda. E eu: "caralho, o tempo realmente passa."


Ou não.

sábado, 26 de maio de 2012

cashback movie


"But the reality was much more sexually agressive."

"'Crush'. It's funny how the same word for the feeling of attraction is used for the feeling of disappointment."

quarta-feira, 9 de maio de 2012

question

Body my house
my horse my hound
what will I do
when you are fallen

Where will I sleep
How will I ride
What will I hunt

Where can I go
without my mount
all eager and quick
How will I know
in thicket ahead
is danger or treasure
when Body my good
bright dog is dead

How will it be
to lie in the sky
without roof or door
and wind for an eye

With cloud for shift
how will I hide?
May Swenson

sexta-feira, 4 de maio de 2012

quarta-feira, 11 de abril de 2012

leo's genius quotes

"Our suffering (mine and yours) come from the simply knowledge of the vulnerability our love creates. People who are not bold enough to expose themselves in the name of love always try to deny it. Their fear of hurting themselves makes them unaware of how much they hurt others. Their cowardice blinds them"

Leo

domingo, 8 de abril de 2012

sexta-feira, 6 de abril de 2012


"You're slowly letting me go
And I know this feeling, oh so
This feeling in my bones"

domingo, 1 de abril de 2012



Você solta o carro na ladeira e o ritmo é até estável. Até que alguém vem e puxa o freio de mão.

E aí você quebra o nariz no painel.

sábado, 31 de março de 2012

Um dia seu corpo clamará pelo novo.
Por novas essências e novos concretos.
Novas pulsações. Novas cores. Novas águas, novos perigos, novos abrigos.

Cedo ou tarde, os corpos clamam pelo lado de fora da redoma.

terça-feira, 27 de março de 2012

Yeah. Shit happens.
"You better not break my heart", she said to Bette. But it's not even necessary to get to know the context. We already know what happens next.

domingo, 18 de março de 2012

I don't know if it was "I love you" or "you're lovely" that she whispered. I'd like it either way.

segunda-feira, 5 de março de 2012

sábado, 3 de março de 2012

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

sábado, 25 de fevereiro de 2012

No despertar, um amargor — o gosto da ressaca de vida.
E corre-se. Concreto sôfrego e guincho eterno, mais a inércia.

O tempo pinga, distrai-se com os outros transeuntes;
Os viajores vão adocicando — com pseudo-açúcar — as horas inúteis.

Anoitece, e, longe deles, de todos, vem com o acre a gravidade.
E anda-se rente ao chão, sem mesa, nem bar, nem riff, nem corda, nem pele, nem beijo.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

i like purple better now.

There's this nice milk sugar hater guy, he now calls me Wonderkid. Because of drunk conversations and things like this:

Red stuff — hot stuff. Like just fresh out of the oven. New stuff. New things and new people look red.

And Blue stuff — reminiscent, borrowed stuff. Like Placebo. Old and valuable things and people look blue.

And Purple — red and blue stuff, blended stuff, past and future. All mixed in and out. Peace and caos.

I'm now dazzled.

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Eu me mataria antes que ficasse surda. Seria como se me faltasse o fígado. Ou o sangue.
Effect:


I want love to
Roll me over slowly
Stick a knife inside me,
And twist it all around.

I want love to
Grab my fingers gently
Slam them in a doorway
Put my face into the ground

I want love to
Murder my own mother
And take her off to somewhere
Like hell or up above.

I want love to
Change my friends to enemies,
Change my friends to enemies
And show me how it's all my fault.

I wont let love disrupt, corrupt or interrupt me
I wont let love disrupt, corrupt or interrupt me
Yeah i wont let love disrupt, corrupt, or interrupt me anymore.

I want love to
Walk right up and bite me
Grab ahold of me and fight me
Leave me dying on the ground.

And i want love to
Split my mouth wide open and
Cover up my ears,
And never let me hear a sound.

I want love to,
Forget that you offended me
Or how you have defended me,
When everybody tore me down.

Yeah i want love to
Change my friends to enemies,
Change my friends to enemies
And show me how it's all my fault.

Yeah i wont let love disrupt, corrupt or interrupt me
I wont let love disrupt, corrupt or interrupt me
I wont let love disrupt, corrupt, or interrupt me anymore.

Love Interruption, Jack White
Livrar-se de velhos hábitos ou de memórias lancinantes. Escalar a montanha pra alcançar o pico, o prêmio — autoconfiança. Há os ferrenhos. E há os que não o são o suficientemente.

C'est la vie.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

"É, você escolhe mesmo o que dizer. Já eu, às vezes, falo mesmo. Como se minhas palavras fossem tiros. Disparo e pronto"
— Prometo tentar deixar você ir dormir mais cedo.
— Mais cedo é relativo. Tipo às oito horas da manhã?
— A não ser que você me deixe falando sozinha. Aí é só se levantar e ir dormir.
— Jamais. Você é legal e bebe comigo. Tem todos os requisitos necessários.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Onde queres revólver, sou coqueiro
E onde queres dinheiro, sou paixão
Onde queres descanso, sou desejo
E onde sou só desejo, queres não
E onde não queres nada, nada falta
E onde voas bem alto, eu sou o chão
E onde pisas o chão, minha alma salta
E ganha liberdade na amplidão

Onde queres família, sou maluco
E onde queres romântico, burguês
Onde queres Leblon, sou Pernambuco
E onde queres eunuco, garanhão
Onde queres o sim e o não, talvez
E onde vês, eu não vislumbro razão
Onde o queres o lobo, eu sou o irmão
E onde queres cowboy, eu sou chinês

Ah! Bruta flor do querer
Ah! Bruta flor, bruta flor

Onde queres o ato, eu sou o espírito
E onde queres ternura, eu sou tesão
Onde queres o livre, decassílabo
E onde buscas o anjo, sou mulher
Onde queres prazer, sou o que dói
E onde queres tortura, mansidão
Onde queres um lar, revolução
E onde queres bandido, sou herói

Eu queria querer-te amar o amor
Construir-nos dulcíssima prisão
Encontrar a mais justa adequação
Tudo métrica e rima e nunca dor
Mas a vida é real e é de viés
E vê só que cilada o amor me armou
Eu te quero (e não queres) como sou
Não te quero (e não queres) como és

Ah! Bruta flor do querer
Ah! Bruta flor, bruta flor

Onde queres comício, flipper-vídeo
E onde queres romance, rock?n roll
Onde queres a lua, eu sou o sol
E onde a pura natura, o inseticídio
Onde queres mistério, eu sou a luz
E onde queres um canto, o mundo inteiro
Onde queres quaresma, fevereiro
E onde queres coqueiro, eu sou obus

O quereres e o estares sempre a fim
Do que em mim é em mim tão desigual
Faz-me querer-te bem, querer-te mal
Bem a ti, mal ao quereres assim
Infinitivamente pessoal
E eu querendo querer-te sem ter fim
E, querendo-te, aprender o total
Do querer que há, e do que não há em mim

O Quereres, Caetano Veloso
Quero voltar às "pulsações de susto bom".

Necessito que o inverno não demore a chegar,
o calor é, pra mim, uma jaula.
Invisível e bem palpável.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Voltando à sopa de letrinhas.

Imaginando Dean. Me imaginando nele.

Mergulhando nos verbetes e na dicotomia.

Obrigada pelo livro.