segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

cérebro

— Você vai prestar queixa? — a enfermeira, Rosana, como se podia ler em seu crachá, perguntou como que ansiosa pela resposta.
— É claro que não — respondi num tom que poderia demonstrar obviedade se eu não estivesse tão rouca. Rosana me entregou um copo d’água que eu não era capaz de dizer de onde havia surgido. Dei apenas um gole.
— A mulher esfolou seu pescoço. Eu vi — ela agarrou minha mão pensando estar sendo solidária.
— Só porque acha que matei o filho dela.
A enfermeira mudou de cor.
— Você matou? — ela perguntou de maneira cautelosa.
— Homicídio culposo, por assim dizer.
— Ah... — ela arregalou os olhos. Tinha certeza de que ela não tinha ideia do que eu quis dizer.
— Estou me sentindo melhor agora, obrigada — eu disse-lhe ao levantar da poltrona que cheirava a gente velha e álcool. — Vou sair daqui, essas paredes têm uma cor de vômito que me deixa enjoada.

sábado, 29 de janeiro de 2011

cornerstone, arctic monkeys

I thought I saw you in the Battleship
But it was only a look-a-like
She was nothing but a vision trick
Under the warning light
She was close, close enough to be your ghost
But my chances turned to toast when I asked her if
I could call her your name

I thought I saw you in the Rusty Hook
Huddled up in a wicker chair
I wandered over for a closer look
And kissed whoever was sitting there
She was close and she held me very tightly
'Til I asked awfully politely:
"Please, can i call you her name?"

I elongated my lift home
Yeah, I let him go the long way round
I smelt your scent on the seatbelt
And kept my shortcuts to myself

I thought I saw you in the Parrot's Beak
Messing with the smoke alarm
It was too loud for me to hear her speak
And she had a broken arm
It was close, so close that the walls were wet
And she wrote it out in letraset:
"no, you can't call me her name"

Tell me where's your hiding place
I'm worried I'll forget your face
And I've asked everyone
I'm beginning to think I imagined you all along

I elongated my lift home
Yeah I let him go the long way round
I smelt your scent on the seatbelt
And kept my shortcuts to myself

I saw your sister in the Cornerstone
On the phone to the middle man
When I saw that she was on her own
I thought she might understand
She was close, well you couldn't get much closer
She said "I'm really not supposed to, but yes,
You can call me anything you want"

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

— Hey, Norman, I need you to pick up uncle Russell.
— Oh, man, he's always in a bad mood.
— It's not a mood if he's always in it. It's his personality.

Quote from Death At A Funeral 

domingo, 23 de janeiro de 2011

o cheiro triste do fumante solitário

o raio de definição

"Maria disse-me que gostaria de conhecer Paris. Contei-lhe que lá vivera durante algum tempo e ela perguntou-me como era a cidade. Respondi: — É suja. Há pombas e pátios escuros. As pessoas têm a pele muito branca"

Meursault em O Estrangeiro, de Camus

as voltas

Há uns anos eu morava num prédio onde havia muitos moleques. Jogávamos futebol, andávamos de skate, brincávamos de esconde-esconde. Certo dia, ao entrar em casa, notei marcas de sujeira na cozinha, rastros de terra do canteiro do pátio que eu mesma costumava deixar depois de um dia de diversão quando voltava suada para o apartamento. Noutro certo dia, um dos moleques confessou: "Estava com sede e não queria subir até o último andar. Você tinha um filtro com botões legais, a água já saía gelada. Acabei por entrar pela janela da cozinha". Era um moleque divertido e o mais boca suja. Soube há pouco que foi para a reabilitação, talvez pela terceira vez, recentemente.

As benditas voltas de que tanto falam...

ocaso precoce

depois de muito esforço... o sucesso!


E o mais surpreendente: ficou saboroso...

obrigada

"Mas, tão certo quanto o erro de ser barco
A motor e insistir em usar os remos,
É o mal que a água faz quando se afoga
E o salva-vidas não está lá porque não vemos"


Daniel na Cova Dos Leões, Legião Urbana

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

"Rivotriller!", Jackie chamou, pois o carro estava em movimento. Meus lábios também.
"It's funny, you know, after all the highways and the trains and the appointments and the years you end up worth more dead then alive"
Willy

"Nobody is hanging himself, Willy. I ran down eleven flights with a pen in my hand today and suddenly I stopped, you hear me?  And in the middle of that office building... I saw... You listen to this!— I stopped in the middle of the building and I saw... the sky. I saw the things that I love in this world; the work and the food and the time to sit and smoke. And I looked at the pen and I said to myself what the hell am I grabbing this for? Why am I trying to become what I don't want to be? What am I doing in an office, making a contemptuous, begging fool of myself, when all I want is out there, waiting for me the minute I say I know who I am! Why can't I say that, Willy!"
Biff

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

"eu sou o ímpar da casa"

Pagu, assim que ler isso, explique, por favor.
"Boa tarde", ele disse, para não dizer "Adeus", adaptando o propósito da coisa. Eu ri, lembrando-me das vezes em que disse "Boa noite" às nove da manhã.

sábado, 15 de janeiro de 2011

— Mas e aí? Quantos anos ele tem?
— Acho que tem x.
— x? Só isso?
— Como assim "só isso"?
— Achei que fosse mais velho.
— Bem, não é.
— Mas parece.
— Não parece não.
— Você acha que ele parece mais novo que eu?
— Acho. Mas talvez eu não seja a pessoa mais indicada a responder a essa pergunta.
— Por quê? Porque um é seu pai e o outro você beija?
— Exatamente.

she's got a ticket to ride, but with no blender

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

um P é um R sem a ranhetice

Não acendi a luz ao entrar. Tateei as paredes e as cortinas, imaginei o chaveiro onde se poderia ver um amigo de Deus e vi a luz alheia tentando invadir minha casa sem sucesso; não toquei em nada acidentalmente. No escuro fiquei. Talvez achasse que, assim, fosse mais provável que ouvisse tua voz ou teu cheiro voltasse à mim.

Ouvi pouco, senti insuficiência. Mas tenho paciência.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

to nick & jackie

melhor que um 'spider kiss'


de My Blueberry Nights

bem mais que uma boa noite

e me faz falta teu cheiro em minha pele

Emudecer:


1. Tornar mudo, fazer calar.
2. Tornar-se mudo, deixar de se fazer ouvir.



Sinônimos de emudecer: calar, silenciar.






É o que tens feito comigo.

reminiscência

— Renato, o que é reminiscência? — perguntei-lhe enterrada na poltrona verde, rodeada de paredes cor de açúcar e tulipas semimortas. Observei o mundo externo pela janela do quarto andar enquanto durava o ocaso; apagava-se o céu, acendiam-se as lâmpadas e as estrelas. Condensava-se a água em torno de meu copo de chá gelado; o vidro suava e escorregava-me da mão.
— Ah, Cibele, vá procurar no dicionário... — Renato ralhou, mal-humorado, as mãos apoiadas sobre o balcão da cozinha; eu podia ver seu reflexo no vidro da janela ao alternar o foco de minha visão entre seu rosto e os postes e carrinhos de pipoca na avenida. Sua irritação era, provavelmente, culpa do chefe. Quase sempre era.
— Eu procurei — respondi-lhe concentrando minha visão mais na rua que em seu reflexo. Sinal verde, sinal amarelo, sinal vermelho, sinal verde, prostitutas, portas de aço, portas de vidro, látex azul, luzes de freio indo, faróis baixos vindo...
— E então?
— E então? O que?
— Não achou o significado? — ele ainda não havia tirado as mãos do balcão.
— Nada mais significativo que “recordação indecisa” ou “memória vaga”.
— Não é suficiente, não é mesmo? — Renato perguntou sarcasticamente, sabendo desde sempre a resposta. Já me conhecia.
— Não, não é. Ouça: reminiscência — disse-lhe e sorri sem olhá-lo. — Uma palavra robusta e estupefaciente. Aliás, lembro-me muito bem de quando você explicou-me o que significava “estupefaciente”; foi a melhor tarde da minha vida. Você agora acha que deixar-me com duas pequenas palavras impressas como “recordação vaga” é suficiente?
— Eu sou normal; penso que deveria ser o bastante — ele respondeu. — Você e suas manias. A fotografia intangível para definir sem dizer nada uma palavra que lhe toca ou enternece — zombou de mim.
— Você sabe ou não o que é reminiscência?
Renato encarou-me pelo vidro da janela e em seguida seu reflexo saiu da moldura. Ouvi atentamente seus passos pesados, satisfeita. Atingiu-me o ranger das portas dos guarda-roupas vetustos que abríamos e fechávamos indelicadamente, assim como o som da avidez — Renato estava a revirar nossos pertences. Assim que se findou o som, ouvi seus passos em direção à cozinha e em seguida à nossa poltrona verde.
Com certo mistério, ele sentou-se sobre a mesa de centro, à frente da poltrona, e entregou-me uma caixa retangular enquanto agarrava meu copo e o pousava serenamente ao seu lado. Sobre a caixa havia uma brilhante e loura pera que ele tratou de apanhar logo.
— Vamos, abra — ele encorajou, todo enigmas, e deu uma mordiscada na fruta, que era minha preferida. Apesar de observá-lo ser algo muito tentador, puxei a tampa, e veio a mim um cheiro de mofo, como o cheiro de livros anciãos. Renato a jogou sobre a mesa ao lado do cinzeiro de cobre.
Encarei o conteúdo da pequena arca. Aos poucos, certos objetos iam me prendendo a atenção; rochas de beira de praia que ainda cheiravam a sal e ferrugem, entradas de cinema datadas de cinco anos atrás, folhas pautadas onde se podia ler algum verso de um poema sem nome ou de uma música pouco conhecida, além de inúmeras fotografias que continham meu rosto (ou parte dele) num espaço e tempo em que eu não era capaz de me encaixar.
Subitamente minha visão se fez em flashes. Flashes amarelados como papel velho ou lâmpadas incandescentes. Sem razão, eu sentia êxtase e desencanto, exuberância e escassez. Renato, que me observava atentamente, abandonou ao lado do meu copo de chá, da tampa da caixa e do cinzeiro de cobre a metade que restava da pera e aproximou seu rosto do meu. Assim que seus lábios obtiveram os meus e senti o sabor familiar, doce e arenoso da fruta, me veio à mente a imagem de um dia de sol onde eu podia enxergar e apalpar o vento; ainda que a imagem pudesse, em alguma hipótese, ser memória, era também surrealmente imprecisa, irreal.
— Então isso é que é reminiscência? — perguntei a Renato, assim que a doçura arenosa abandonou-me a língua, admirada.
— Reminiscência... Sim, é isso. Visão oblíqua e elusiva, sentimento latente e esmagador — ele disse, e seus lábios se arquearam num sorriso meio surpreso, meio resignado. — Você tinha razão. Duas palavras impressas não são o bastante.



NA: Para quem já leu isso, reescrevi o texto
porque nunca me contento com a incompletude dele.

domingo, 9 de janeiro de 2011

não passei a maldita catraca...

"Não deixei nem por um segundo de esquecer as consequências desse mundo louco em que compreendes e gosta, dosa para que não me torne abstinente e faça reabilitação para desintoxicar-te de mim, se não faz mal, apenas enlouquece de Verdade.
Que vício é esse teu que insiste em ser habituoso?"

o indefinido e impreciso, irrevocável e irrefutável

Era e não era a primeira noite. Não há como dizer o que se passou ali — talvez uma troca de palavras, ou de lágrimas, ou de estrelas, ou de amoras, ou de seres.


Talvez não uma troca, afinal, são um só; e o "nós" sendo útil ao "eu". Mais que útil: infalível, inevitável e essencial.


Eles são o ápice e a base do incondicional.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

"Pêssego no centro da Tertúlia ao invés de o homem no centro do universo"

Pagu

adivinhe quem é quem

de temps à autre en 1918

Passei o jantar encarando, à meia luz, à luz de velas, o bilhete. Nada me havia agradado mais — nem torturado...

Não sabia dizer se a ausência de seu rosto, a princípio, foi algo bom — já sentia falta de seus olhos, ainda que nunca tivesse posto sobre eles os meus. Sabia apenas que não me importava o rosto; importava que eu continuasse a receber suas pequeninas mensagens em papel vetusto em sublime caligrafia, fazendo, assim, de borras de café, cinzas e crepúsculos nossa atmosfera. E continuei.

Passei o jantar encarando, à meia luz, à luz de velas, o bilhete. Nada me havia agradado mais...


GRAMÁTICA RUIM?

Assim você me mata, tomanocu...

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

de temps à autre en 1922

Deixei de lado as tintas a óleo e o carvão. Os rolos de linho e de algodão faziam-se pó.
Respingos de futura acidez faziam de minha janela morada, refrações da luz da cidade da luz. Meu olhar não chegava além do tabaco tostado ou da agulha quebrada da vitrola.


Em meio aos lençóis usados estava eu, imóvel.


Em razão de ser ainda capaz de jurar que o ouvia entrando, jogando o que carregasse num lugar qualquer, correndo, arrancando qualquer vestígio de tecido, arrancando qualquer vestígio de si mesmo, lançando-se. Sobre mim.


Não ouvi — era memória.

chegamos ao sem número

Lá se foi a retina; restou-me o alvo e lácteo.

O futuro intangível, a força inimaginável e a frivolidade das palavras prendem-se a mim. Livro-me delas, repelindo cada uma de suas partículas suavemente, fleumaticamente, placidamente. Mas elas voltam imperturbadas como voltaria a poeira à mobília.

E liquefeita encontra-se minh'alma.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

.

Hoje é dia par. Dia de marretada, de cerveja, de fritura, de garoa, de desejo.
Flutuo. Leio e releio e só me sobram película, miado, fé, trovão por trás de mansidão.

Se persisto, não é por mim.












E me vem a desistência, morro por dentro; a leveza do nada me envolve macio. Dissuadir-me-á ninguém, mas já não sou senhora de mim mesma. Nem estrangeira de mim mesma. Sou um grão de sal no mar do céu. Mas nada está em calma; o tempo não cura, o beijo não dura, minha alma não tem a mesma idade que a idade do céu.

domingo, 2 de janeiro de 2011

birra minha com quem mete o bedelho nas minhas palavras:

"Flash - Devem ser as drogas. Talvez uma droga de vida, droga de trabalho, droga de cansaço"


Caju em aosdiabos.blogspot.com

the jacket's jackie



da tv

Dois amigos dentro de um automóvel na escuridão enquanto na rua passava apenas um carro por minuto. O passageiro estava passando uma temporada na casa do motorista. O motorista para num lugar que nunca havia antes parado.
— Que é que você está fazendo? — o outro pergunta.
— O leite acabou — o motorista responde e sai. E demora. Demora. E então, disparos e clarões. O outro sai e invade o lugar em desespero.
— Will? Will? Porra, Will, cadê você?
Will estava sangrando no chão, assim como o dono da loja, enquanto o atirador saía pelos fundos.
No hospital, a confusão:
— E então? O que houve?
O amigo, cabisbaixo, responde:
— Acabei com a droga do leite.

tumblr

Minha mão estava mais dormente que minha orelha quando desliguei o telefone.

deedee's tattoos

o microsoft word starter é, muitas vezes, demasiadamente e irritantemente INTROMETIDO:

sábado, 1 de janeiro de 2011