quinta-feira, 28 de outubro de 2010

dos & kids in the family tour bus

Entrevistadora: Sabe o que eu gosto em vocês? Vocês gravam seus discos, fazem suas turnês, mas vocês, tipo, vão viver suas vidas. Vocês realmente têm vidas? Porque aí vocês tem algo sobre o que escrever que realmente importa, não é?
Gerard: Sim, foi bom você ter falado disso, porque é por isso que os discos demoram tanto.
E: É?
G: Sim, temos que viver nossas vidas e ganhar alguma perspectiva...
E: Sim, porque, caso contrário, vocês estariam escrevendo músicas sobre estar na estrada e nós todos sabemos sobre... você sabe... depois de um tempo... Sabe, essa foi a gota d'água pra mim com o Mötley Crüe.
G: Exatamente. "Lar, doce lar" são as últimas palavras em tudo. Não ouço mais...
E: [ri freneticamente] Nem eu.

Trecho de entrevista na rádio KROQ

completude


Não, não me refiro ao efeito causado pela vista. Refiro-me ao que não se pode ver dentro da 'moldura'.

A música que eu cantava, as frases que recitava, as pessoas para quem olhava, olhava e não conhecia; as pessoas para quem não olhava, e não olhava porque não era preciso, a brisa que me envolvia, a cerveja que eu bebia, a água condensando em vidro, o saxofone que tocava o noctívago, as tatuagens que eu apreciava, os cabelos que afagava, as mãos que segurava, o calor que me descia, as palavras que não dizia, o azedume que me consumia, o tempo que não parava, a noite que não acabava, e não acabava porque eu não queria — minha completude.

amar em silêncio

Um Objeto Voador Não Identificado orbitou hoje em torno da minha atmosfera.

Foi bom.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

O estive esperando o dia todo. Finalmente o vento veio a mim e me secou o rosto.










Então a chuva substuiu-me as lágrimas.

domingo, 24 de outubro de 2010

a polpa é bem mais capciosa

O imaginava completamente diferente. Observando sua casca de perto, me surpreendi aceitando abertamente o clichê: as aparências enganam mesmo.
Pelo que soube sobre sua pessoa, imaginei LH com uma aparência completamente vulnerável; pequeno, frágil, desfavorecido, gaguejante, desesperado. Mas eu o conheci primeiro por dentro, depois por fora, e isso é algo muito desorientador. Geralmente, a ordem natural é ver um sujeito e imaginar como ele é quando está só ou com alguém especial ou não. E então admirar-se ou decepcionar-se. Mas eu já sabia muito sobre sua alma e quase nada sobre seu exterior, e inverter a ordem chega a ser emocionante.
No fim, eu consegui ignorar o que havia de podre e pude saborear a textura agradável da fruta; eu estava com um pé atrás, sendo levada pela mão apenas por Pagu, achando que a parte estragada de LH prevaleceria, mas não tive nem sinal dela. Ele tem uma ótima camuflagem, um autocontrole admirável, e isso não é ruim, afinal, o que temos de podre devemos guardar para quem pode suportar.

PS: e além de tudo ele tem um violão e uma habilidade com ele invejáveis. Pagu, pode dizer a ele que gostei de conhecê-lo.
— Ele é assim mesmo.
— Assim como?
— Complicado.
— Ah, é?
— Bem, "não, porque nem sempre".

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

i believe i see myself in jack

"As pessoas de fora", relata Gallien com sua fala arrastada e sonora, "pegam um expemplar da resvista Alaska, folheiam e ficam pensando: 'Ei, vou pra lá, viver da terra, levar uma boa vida'. Mas quando chegam aqui e entram de verdade no mato, bem, aí não é como a revista tinha contado. Os rios são grandes e rápidos. Os mosquitos comem você vivo. Na maioria dos lugares, não há muitos animais pra caçar. Viver no mato não é um piquenique.
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"Você via logo que Alex era inteligente", reflete Westerberg, acabando seu terceiro drinque. "Lia muito. Usava um monte de palavras pomposas. Acho que parte do que complicou sua vida talvez tenha sido que ele pensava muito. Às vezes, fazia força demais pra entender o mundo, saber por que certas pessoas eram más com as outras, Um par de vezes tentei lhe dizer que era um erro se aprofundar tanto naquele tipo de coisa, mas Alex empacava. Tinha sempre que saber a resposta certa e absoluta antes de passar para a próxima coisa".
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Com a bateria arriada, não havia meio de fazer o Datsun andar. Se quisesse levar o carro de volta para um estrada pavimentada, McCandless não tinha escolha senão caminhar até as autoridades e contar seu apuro. Mas se falasse com os guardas eles teriam algumas perguntas maçantes a fazer: por que ele tinha ignorado os avisos e entrado no leito seco? Sabia que a licença do veículo expirara havia dois anos e não fora renovada? Sabia que sua carteira de motorista também estava vencida e que o carro não tinha seguro obrigatório?
As respostas honestas a essas questões não seriam provavelmente bem recebidas pelos guardas. McCandless poderia esforçar-se para explicar que respondia a estatutos de uma ordem superior — que, como adepto moderno de Henry David Thoreau, tinha por evangelho o ensaio "A Desobediência Civil" e considerava, portanto, sua responsabilidade moral zombar das leis do Estado.
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McCandless era apaixonado por London desde criança. Sua condenação veemente da sociedade capitalista, sua glorificação do mundo primordial, sua defesa da plebe, tudo isso refletia as paixões de McCandless. (...)Porém, estava tão fascinado por essas histórias que parecia esquecer que eram obras de ficção, construções da imaginação que tinham mais a ver com a sensibilidade de London que com as realidades da vida na região subártica. McCandless esquecia convenientemente que o próprio London passara apenas um inverno no Norte e que se suicidara em sua fazenda da Califórnia aos quarenta anos, bêbado delirante, obeso e patético, levando uma vida sedentária que pouco tinha a ver com os ideais que defendia no papel.
Trechos de Into The Wild, de Jon Krakauer

Eu queria movimento e não um curso calmo de existência. Queria excitação e perigo e a oportunidade de sacrificar-me por meu amor. Sentia em mim uma superabundância de energia que não encontrava escoadouro em nossa vida tranquila.
Leon Tostoi, Felicidade Familiar