segunda-feira, 20 de agosto de 2012

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

"Deixe-me envolver-te", diz. Tão amorável. "Aqui estou, esperando para abraçar-te".

Soa como o mar, soa distante. Não distante propriamente, mas tão distante quanto o lugar a que se chegaria de mãos dadas. Reminiscentemente. Como o calor da guimba compartilhada, que citara antes. Como lençóis usados. Mornos. Como calafrios felizmente previsíveis. Como os mesmos automóveis passeando pelas mesmas avenidas todos os dias, o som familiar sem o qual não se dorme.

Soa e ressoa...

autofágico

sem palavras


quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Querida Voy a Comprar Cigarillos y Vuelvo


"Sabe de uma coisa carinha? Você está tecnicamente louco. Porque você perdeu tudo. Tudo, menos a razão."

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Tanner Hall


"Knowing each other's darkest moments somehow connected us and redeemed us. The way two negatives make a positive. The way your eyes adjust to the dark."

com Rooney Mara. Muah.

terça-feira, 7 de agosto de 2012

E eu, que amo poesia e não digo, que odeio tudo que escrevem, que sofro com Quintana, tão triste e sozinho naquele quarto de hotel, que me mato ouvindo Cecília e Clarice chorando aos meus ouvidos, que volto no tempo e tento entender Noel e Augusto, que chuto Oswald e abraço Mário, que finjo que eles não existem que é pro mundo não ver a dor que eles compartilham comigo e só comigo, perco as forças, me derreto, esqueço quem sou e que é poesia, quando te vejo escrita, quando te leio, e com você...

Cristal Magalhães Neves

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Reminiscência. Remi. Mimi. Niscê. Cência. Filha, apelido, não lembro, eu vou esquecer, me lembra, Reminiscência.

Fernanda Ninomya Egashira, stoned

domingo, 5 de agosto de 2012

"Opiniões.
As pessoas estão cheias delas.
E eu estou cheio delas.
Delas e das pessoas.
(...)
Aqui se escreve um testamento.
Aqui se faz aqui se paga.
Aqui se nega um juramento.
Aqui se nasce aqui se mata.
(...)
Já eu.
Eu não.
Eu não quero e não sei.
E já nem quero saber.
(...)
Só sei que pulso.
Pulso e sangro.
Não sei mais nada.
Nem sei se quero.

***

Era só um dia igual.
Ele abriu os olhos.
Sentiu o vazio.
Boneco do posto.
Cheio de vento.
Ele coçou a cabeça.
Cabelo ensebado.
Ele sente preguiça.
Preguiça da vida.
Era uma vez uma história.
Daquelas sem a mínima graça.
Sem porquinho, sem carneiro, sem pato feio.
Daquelas que você cansou de ouvir.
E cansou de viver.
No silêncio os subtítulos são dispensáveis.
E o filme é ridículo.
Ator podre.
Tradução medíocre do título original para o português.
Cenários que não se encaixam.
Era só um dia igual.

***

Segui pela rua da quitanda.
Suja.
Cachorro magro e velho na porta.
E eu odeio pombo.
Símbolo da paz.
Nunca estou em paz.
Penso em um monge budista com o rabo entupido de anfetamina.
Ele também odiaria pombo.
E usaria cinta liga.
Nirvana o caralho.
Passo aqui todo dia.
Cheira mal.
Deve ser o cachorro.
Café puro.
O pombo da quitanda cisca no chão do bar.
Rato com asa.
Agindo feito galinha.
O tiozinho no outro lado do balcão olha pra mim.
Nove e meia da manhã.
Deve ser sua terceira pinga já.
Tá em conserva.
Moribundo no formol.
Por isso não morre.
Por isso todo dia está alí.
Deve ser ele que fede.
Calendário de cerveja com mulher peituda.
Tão bonita que deve ser um saco.
Não tenho saco pra mulher assim.
Sorriso branco.
Peito e cerveja.
TPM, dívida, reclamação.
O Photoshop denuncia seu espírito.
Prefiro o cachorro, o pombo e o tiozinho.
E olha que eu odeio pombo.
No meu café não tem mulher peituda.
Mas tem um reflexo escuro.
Que eu queria esquecer.

***

Quando eu era criança tinha uma mulher velha que jogava um palito de fósforo aceso no café e via o futuro na mancha que fazia quando o palito apagava.
Sempre me levavam lá pra tirar quebrante.
Ficava nessa mesma rua aqui da quitanda.
Acho.
Tipo mais lá pra baixo.
Uma vez eu tomei um fora na escola e chorei em casa.
Minha mãe achou que era quebrante.
A velha jogou o fósforo.
Falou que era amor.
No dia seguinte foi a mesma merda.
Botei a culpa na velha.
Depois com o tempo descobri que o problema era o café.
Porque café não tem nada a ver com amor.
Café desce rasgando e te deixa ligado.
Amor não.
Amor é tipo leite.
Tem prazo de validade curto e azeda muito rápido.
E longa vida tem conservante.
Uma mentira embalada.
Só parece seguro porque está em uma caixinha.
Depois que abre é igual a qualquer outro.
Não sei como chorei por aquela ridícula da escola.
Ela era horrível.
Amor é tipo isso, derivado de leite com embalagem bonita na geladeira do mercado.
Você quer muito, as vezes fica doente de vontade, mas depois que bebe vê que nem foi tudo aquilo.
E sem as embalagens, no fundo, danone, queijo, manteiga... é tudo a mesma merda.
Fica lá em você boiando até sumir.
Teu corpo absorve o bom.
E o ruim vai embora."





Altro, Nenê. Os Funerais do Coelho Branco
E percebo que a parte de mim que havia nela talvez seja responsável por tudo que de insuportável aconteceu.

sábado, 4 de agosto de 2012

quando

Ela se disse abandonada uma vez. Não por alguém. Falava daquela fenda que se tem no estômago quando se ama, ou não se ama, mas se imagina e pensa realmente no amor. Talvez seja mais como um tijolo dentro do peito, colando-nos ao chão. Ou, como eu costumava dizer, quando se tem o estômago pequeno. E ninguém — ninguém — por perto.

Ela chorou algumas vezes por conta de algo digno de tonar-se uma expressão tertuliana: álcool e Caio Fernando Abreu. Lemos em voz alta, e bebemos, e fumamos, e bebemos, e bebemos, e lemos em voz alta outra vez. E ela chorou algumas vezes.

Continuei a ler o texto que havia começado sentindo na boca algo como um conforto familiar que se percebe na quentura da guimba de um cigarro compartilhado com alguém por quem se tem grande ternura, grande amor, grande amizade, grande, grande, quando ela beijou-me. Foi só um beijo. Só um beijo. E até ri. Rimos.

E a escuridão e a fumaça e a quentura cabiam ali. Tudo cabia ali. Tinha o vinho quente e as pombas brancas. E amanheceu. Amanheceu na pele dela e nos meus olhos e no meu cobertor. Amanheceu.