segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

cérebro

— Você vai prestar queixa? — a enfermeira, Rosana, como se podia ler em seu crachá, perguntou como que ansiosa pela resposta.
— É claro que não — respondi num tom que poderia demonstrar obviedade se eu não estivesse tão rouca. Rosana me entregou um copo d’água que eu não era capaz de dizer de onde havia surgido. Dei apenas um gole.
— A mulher esfolou seu pescoço. Eu vi — ela agarrou minha mão pensando estar sendo solidária.
— Só porque acha que matei o filho dela.
A enfermeira mudou de cor.
— Você matou? — ela perguntou de maneira cautelosa.
— Homicídio culposo, por assim dizer.
— Ah... — ela arregalou os olhos. Tinha certeza de que ela não tinha ideia do que eu quis dizer.
— Estou me sentindo melhor agora, obrigada — eu disse-lhe ao levantar da poltrona que cheirava a gente velha e álcool. — Vou sair daqui, essas paredes têm uma cor de vômito que me deixa enjoada.

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