sábado, 4 de agosto de 2012

quando

Ela se disse abandonada uma vez. Não por alguém. Falava daquela fenda que se tem no estômago quando se ama, ou não se ama, mas se imagina e pensa realmente no amor. Talvez seja mais como um tijolo dentro do peito, colando-nos ao chão. Ou, como eu costumava dizer, quando se tem o estômago pequeno. E ninguém — ninguém — por perto.

Ela chorou algumas vezes por conta de algo digno de tonar-se uma expressão tertuliana: álcool e Caio Fernando Abreu. Lemos em voz alta, e bebemos, e fumamos, e bebemos, e bebemos, e lemos em voz alta outra vez. E ela chorou algumas vezes.

Continuei a ler o texto que havia começado sentindo na boca algo como um conforto familiar que se percebe na quentura da guimba de um cigarro compartilhado com alguém por quem se tem grande ternura, grande amor, grande amizade, grande, grande, quando ela beijou-me. Foi só um beijo. Só um beijo. E até ri. Rimos.

E a escuridão e a fumaça e a quentura cabiam ali. Tudo cabia ali. Tinha o vinho quente e as pombas brancas. E amanheceu. Amanheceu na pele dela e nos meus olhos e no meu cobertor. Amanheceu.

Nenhum comentário:

Postar um comentário