quinta-feira, 21 de julho de 2011

concisão II

 Não cessara o som dos pingos da água que não deixa de escorrer torneira, ou o das folhas farfalhando ao longe, no fim da rua; ainda abrem e fecham a geladeira, os carros ainda fazem estardalhaço ao passar pela viela estreita. Nada disso foi alterado; ele ainda é capaz de ouvir cada um desses sons e muito mais. Mas cessaram-se as voltas. Aquelas, noturnas.
 Ele agora não deixa a casa — pelo menos enquanto não volta à labuta. Vagueia pelo lar enquanto seus espectros o seguem, em fila e por ordem de tamanho. Impossível livrar-se deles, de qualquer maneira, o que significa claustrofobia: todos no mesmo cômodo, cedo ou tarde, às acotoveladas; quase sempre um sorriso de escárnio ou de desprezo no rosto daqueles que se consideram invencíveis e irredutíveis. Ele procura agora uma maneira de não somente amansá-los, como também extingui-los, se possível. Como disse ele próprio, vai achar o braço que perdeu.
 Já se pode ver o rastro de sangue no chão — o resultado de remover novos velhos cacos das solas de seus pés. E o sangue não é só dele, porque fomos um só.

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